quinta-feira, julho 24, 2008

O Carrocel da Minha Vida

Depois de subir ao máximo no Carrocel da vida, e me ver rodeada de tanta gente, todos a divertirmo-nos, sem grandes responsabilidades nem planos para o futuro, começámos a descer a pique. Pensei na altura que quando chegasse cá abaixo já não iria ser feliz pois já não me estaria a divertir tanto, mas descobri que cá em baixo, quando a adrenalina passa e começamos a readquirir a nossa estabilidade, é quando vemos com mais claridade as coisas, não distorcemos a realidade com tantas hormonas a toldarem-nos a visão e podemos sorrir com mais calma, em vez de rir do nervosismo.

Cheguei então à parte mais baixa do Carrocel, descobri que já não conseguia ver metade das pessoas que me acompanhavam lá em cima, mas quem era mais importante estava lá, e isso é que traz a felicidade - poucos amigos em vez de muitos conhecidos. Descobri também que não importa quanto tempo estamos com as pessoas mas sim o que fazemos quando estamos juntos (como diz o anúncio do Ikea). Descobri que não fazia mal ter mais calma, analisar os pensamentos, fazer planos para o futuro com pés e cabeça, que não fossem irreais, dedicar-me à familia e aos sentimentos. Aos poucos isto pareceu-me ser cansativo e tive saudades da zona alta do Carrocel.

Não temos que viver sempre em cima ou em baixo na nossa vida social e divertida... Há alturas em que estamos mais lá no alto e outras em que preferimos vir cá abaixo e respirar mais calmamente. As etapas da nossa vida levam-nos a que estejamos mais tempo em cima ou em baixo. Estive tanto tempo em baixo que achei que era impossivel voltar acima, que já não seria aceite pela sociedade que ainda lá estava, pois agora era uma das "de baixo". Mas tinha tantas saudades que experimentei, e descobri que não só ainda me adaptava lindamente lá em cima como ainda me felicitavam pelo tempo passado cá em baixo. Não era por estarmos em fases diferentes que já não podiamos estar juntos quando as fases se encontravam.

E foi assim que decidi, pelo menos de vez em quando, ir lá acima ao Carrocel, visitar os amigos que ainda estão em fase e receber alguma energia deles.

quinta-feira, julho 17, 2008

Julgamentos (e parasitas)

É tão fácil julgar os que não nos tão próximos, as situações pelas quais nunca passámos ou experiências que nunca experienciámos....

Ainda hoje, num fórum, alguém perguntava aos utilizadores as três coisas que mais detestavam no seu país. Fiquei surpresa ao ver que alguns respondiam "as mães adolescentes" ou "as mães solteiras e outras tais que andam a ter filhos por causa dos subsidios".... Não me pronunciei pois falavam dum país que não é o meu.

Compreendo a raiva que sentem, pois já li noutros posts do mesmo fórum, contra os parasitas da sociedade, nacionais e emigrantes que viajam para países mais ricos e vivem a vida a "sugar" o estado, vivendo em grande parte às custas dos impostos que o "Zé povinho" paga todos os meses. Consigo perceber essa revolta pois parasitas destes também os temos por cá. Familias que não declaram os seus rendimentos, pois são obtidos por meios duvidosos, sendo consideradas "pobres" pois, legalmente, não ganham nada. São-lhes dadas casas novas, construidas só para eles, com todas as condições. Vivem lá 5 ou 10 anos, a pagar meia dúzia de tostões, enquanto vão destruindo a propriedade para depois lhes darem outra casa nova.

O "Zé povinho", como eu, vê 30% do seu ordenado deduzido para impostos, 50% do restante é para a renda da casa, mais 15% para o passe "social", 20% para comida e 20% para a creche do puto. Resultado, gasto mais 10 a 20% do que ganho. Juntando a isso as despesas extra (seguro do carro, avarias, uma ou outra necessidade para a casa) só sobrevivemos graças aos subsidios de férias e de natal, que, em vez de serem para o merecido descanso anual ou para as prendas da familia, têm que ser esticadas para cobrir as outras despesas que entretanto se acumularam...

Os tais parasitas, para além da meia dúzia de tostões que pagam de renda, têm direito a um subsidio mensal de "rendimento mínimo", mais subsidio de desemprego, mais creche e escola gratuita para os miudos, com almoço e ATL incluidos...

Existem, de facto, familias numerosas ou desfavorecidas que vivem todos os dias na miséria. Familias que não têm dinheiro para sequer comprar comida para as crianças e vivem às custas da bondade dos vizinhos e conhecidos. Para muitas dessas, quando se digirem à Seg. Social, a resposta é a mesma "estão em lista de espera"... Á espera que alguma das outras familias, que até nem precisam, saia da lista?!? É melhor esperarem sentados, ou melhor, deitados... Mas enfim, essa é a realidade com a qual temos que lidar, ou pelo menos observar ao nosso redor.

Voltando ao tema, julgamentos... Depois de conhecida esta realidade e de apenas um pouco de conhecimento sobre o que se passa em ambos os lados, não cabe ao "Zé povinho", por muita raiva que o sistema lhe traga e lhe saia do "pêlo" todos os meses, julgar os outros, pondo o "trigo" e o "joio" (ou lá como se diz) todo dentro do mesmo saco...

"Bons" e "maus" existem em todos os paises e, até ver, nenhum sistema é perfeito. No país em questão o sistema permite que muita mais gente possa usufruir dos beneficios, o que é bom, pois apesar de lá estarem mais parasitas, também lá está mais gente que de facto merece.

Fiquei confusa e um pouco chateada até ao vê-los julgar as mulheres que têm os filhos... Até acredito que algumas tenham as crianças e se tornem parasitas mas, como mãe, não me imagino a "abrir as pernas", passar por 9 meses de gravidez, um dia muito penoso de parto e uma vida toda alterada só para usufruir de 50€ (subsidio Português) , 500€ou até 1500€ (como no país em questão). Não queremos os filhos pelo dinheiro mas sim o dinheiro para os filhos. Falo, pelo menos, por mim. Quanto às outras, não sei, mas calculo que, como adolescente ou mãe solteira precisem do dinheiro talvez até mais que eu. Muitas delas vêm-se nessa situação não por voltade própria, mas por ironia do destino.

Já dizia não sei quem (talvez na biblia ... lol): "Antes de olhares para a trave que o teu irmão tem no olho, tira a fagulha que tens no teu próprio!"